terça-feira, 20 de maio de 2008

Entretranse


Como se tudo parecesse estar em câmera lenta, de repente começo a olhar para os lados e ver que a cidade é um caos perfeito. Não há refúgio silencioso ou limpo de toda a irritação das ruas, do trânsito, da pobreza, da correria, da futilidade. Não há substituto para as noites de calor passadas na calçada, sentindo o cheiro da janta em todas as casas da rua. Não há as torneiras abertas regando as plantas do jardim no fim do dia. Não há os pés descalços na ida à padaria. Ao menos para mim não há. E aí começa a inquietação. Até quando vai durar minha paciência? Até quando vou viver engessada numa vida que não me agrada? Sei que a minha inércia piora todo o quadro, sei que as reclamações só corroboram o clima de poluição de idéias, de sonhos e sentimentos.
Antes que o mundo me engula, preciso saber a que vim, por quê ou por quem vim, e espero estar entre os cotados para a resposta. Ainda me lembro de como imaginava esta cidade na infância. Pensava em pessoas morando em casas minúsculas, em beliches na periferia, imaginava prédios gigantescos e estruturas metálicas de enormes construções. Talvez essa ainda seja a minha visão. No começo impressionavam-me as belezas e luxos, o cenário dos telejornais que se estendiam à minha frente. Hoje todas essas imagens estão borradas, cansadas e desbotadas. O barulho se torna cada vez mais ardido e permanente. Queria poder mergulhar, sentir-me imersa em algo, numa gelatina de silêncio.

4 comentários:

Adriana disse...

"Vem me dar banho!". Ela vem, cansada q só dp de uma viagem madrugada adentro, mas vem. Hábil, deixa a cervejinha no canto, embrulha o braço machucado e me banha enqto proseamos...

Não há refúgio melhor, nem substituto...

Pollyana Barbarella disse...

Clau, até hoje ninguém encontrou essas respostas. Nossa vida é assim, uma dúvida infinita. Se não fosse, não existiria busca, e sem a busca o que seria de nossos anseios, quais seriam nossas motivações?
Talvez as perguntas sejam o melhor refúgio, por mais que nos atormentem.

Mariana Esteves disse...

Tenho certeza de que nos tornaremos melhores depois de passarmos por isso... Ao menos espero!

Cláudia disse...

Eu espero ser outra coisa. Melhor. Mas cada um há de encontrar seu rumo...