quinta-feira, 29 de maio de 2008

Fechamento

Carpete azul no chão. Persianas de plástico bloqueando a entrada de sol. Tela do computador ofuscando a vista. Quinta-feira, 16h, fechamento de revista. Cara contemplativa, olhos grudados na parede à diagonal da onde estou, inerte. Várias imagens na cabeça e nada. 2 minutos, 3 minutos. Sobra tempo para o sentimento atual de nada. Esquisito, nada. O sentimento pode até vir da cabeça, mas o coração é quem sente. O meu tá apertado, sabe? Às vezes até me interrompe o ar. E eu continuo com essa cara de trouxa, a única a não ser informada sobre nada. O q tá acontecendo, caralho? Vc já teve vontade de desaparecer? Pois eu tenho, todo dia. São Paulo é um lixo esnobe burguês. Se conseguir fugir daqui, nunca mais volto! Não volto pra lugar nenhum. ESCUTOU BAURU? Não volto! Não volto! Amor? Sei...
- ADRIAAAAAANA!
- Oi, oi!


quarta-feira, 28 de maio de 2008

Deixa, vai...

Deixa-me ser louca.
Andei pensando...
Se o sol lá fora estala e eu aqui me encolho à sua sobra, se faço ou desfaço a cara de culpa, se cuspo sangue ou cheiro a álcool, se sinto amor ou desamor, tanto faz...
Até o dia que for o último, e talvez eu não o saiba, até lá todos os outros serão apenas pastagem para chegar a ele.
Como da embriaguez fica a ressaca, como na hora da fome as lembranças não alimentam, como tudo parece correr sobre os trilhos que levam ao fim, deixa-me ser louca...
Deixa-me ser borboleta... ou bicicleta... ou chuva... deixa-me ser alguma coisa diferente do que sou...

terça-feira, 27 de maio de 2008

A realidade do amor?

Eu fiz um poema pra você... ...Eu fiz um poema... pra você... Fiz um poema... um-po-e-ma... Quer ouvir? Foi na viagem... Posso falar? Não, eu me lembro... Eu só fiz na cabeça... É assim: "Vejo teus olhos sorrindo, velando meus sonhos que sonham você... teu bom sorriso estrelado..." Sorriso estrelado? É..." teu bom sorriso estrelado na alma calada, destoa..." ... "Luz de água doce", acho... "Luz de água doce, pés de namorado, às vezes te trago, me entorpeço e sigo caminhando." E então? Você... entendeu? Entendi... eu não sou burro... Eu entendi... Fumaça, choro, voltas no ar... Ainda bem que havia espaço... Alguém agarra alguém. É preciso segurar o outro, é preciso ter certeza e razão, é preciso voltar à realidade, mas, é ela ali. Minam as lágrimas receosas e as loucas... Que tal numa noite de vários sorrisos? Que tal uma cartada final? Eu te amo... todo dia, todo dia penso em você... Eu te amo, mesmo... Perplexidade... Chama pelo meu nome com desespero... É loucura, é desvario... As horas se derramam... História... Anos revistos... Dor, desânimo... O filme parece chegar ao fim e o sonho vira um conto fantasioso... Ele passa a existir, tem um fim ou um começo, não sei. As lágrimas lavam tudo... Aperta-me contra o peito... Você, você... Não sei... O choro aos poucos se dissipa ... Vou ao banheiro... É, quando voltar tudo será como antes... E volta. Apagam-se as luzes da novidade. Atrás dos muros a cidade ainda está como a deixamos. Um parque de diversão... Música... Pessoas... Necessidades. Comer, dormir, fugir, amar, sobreviver... Um cigarro... Cada um segue seu rumo. Meu coração me deixa pra trás.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entretranse


Como se tudo parecesse estar em câmera lenta, de repente começo a olhar para os lados e ver que a cidade é um caos perfeito. Não há refúgio silencioso ou limpo de toda a irritação das ruas, do trânsito, da pobreza, da correria, da futilidade. Não há substituto para as noites de calor passadas na calçada, sentindo o cheiro da janta em todas as casas da rua. Não há as torneiras abertas regando as plantas do jardim no fim do dia. Não há os pés descalços na ida à padaria. Ao menos para mim não há. E aí começa a inquietação. Até quando vai durar minha paciência? Até quando vou viver engessada numa vida que não me agrada? Sei que a minha inércia piora todo o quadro, sei que as reclamações só corroboram o clima de poluição de idéias, de sonhos e sentimentos.
Antes que o mundo me engula, preciso saber a que vim, por quê ou por quem vim, e espero estar entre os cotados para a resposta. Ainda me lembro de como imaginava esta cidade na infância. Pensava em pessoas morando em casas minúsculas, em beliches na periferia, imaginava prédios gigantescos e estruturas metálicas de enormes construções. Talvez essa ainda seja a minha visão. No começo impressionavam-me as belezas e luxos, o cenário dos telejornais que se estendiam à minha frente. Hoje todas essas imagens estão borradas, cansadas e desbotadas. O barulho se torna cada vez mais ardido e permanente. Queria poder mergulhar, sentir-me imersa em algo, numa gelatina de silêncio.