quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Agora a paz

Sentada numa ponta de praia em algum lugar da América do Sul observo o mar como se já não o visse
Tanta calmaria com cores tão vivas não deve existir além dos olhos ou da memória
Não há como crer que estou ali, corpo presente, alma também
Só há que se pensar que um dia não estarei mais
Em algum tempo tudo será um retrato, uma lembrança, uma história que se desgasta ao ser contada
Em qualquer tempo ainda será possível fechar os olhos e me imaginar ali
Mas estar, ao vivo, com todos os sentidos tocados por aquele momento, só nele mesmo
E que agora enquanto escrevo já passou

Sentada na ponta daquela praia me apeguei ao presente
Como viver o presente ao contemplar tudo aquilo?
Como não se prostrar a sugar tudo apenas, mas também estar ali só por estar?
Como em qualquer banho, almoço, caminhada, choro
Como em qualquer dia, estava eu ali, dessa vez naquela ponta de praia em que as cores são mais vivas e o sol nos encara direto
Pensei que só naquele momento a areia roçava os pés do menino que corria pela praia
Que só então aquele vento agitava os coqueiros, e só aquela onda era ela e capaz de brilhar ao sol com aquele desenho
Pensei que talvez fosse um sopro de Deus o frescor que me batia no rosto, mesmo debaixo de todo aquele sol, de que eu sentia o calor que devia tomar a cada pele com uma intensidade, só ali, só naquele agora
A menina cambaleia na areia despreocupada e ri de si
O cachorro se sacode espalhando gotas que voam pelo ar, só enquanto podem
A bola se choca contra a raquete e o sol se move devagar

o mar se divide em dois azuis
E meus olhos vêem tudo, tudo