De volta da missa, de volta ao terreiro e aos trajes de algodão
O fogão a sublimar a água em suaves vapores
O sol a invadir a barraca trazendo crianças com roupas de domingo
Na rua auto-falantes disputam espaço com modas nostálgicas do sertão
Amores mal feitos e filhos ingratos embalam violas no bar da esquina
O vô pita sossegado no banco de madeira do passeio
Passantes se ajeitam no meio-fio para prosear
Da esquerda e da direita surgem parentes com roupas de domingo
Vindos da feira, da igreja e da roça
Já se ouvem os brados dos compadres
"Casa até o final do ano?" e outros bordões
Criatura! Ela berra com os netos arteiros
Sempre os mesmos, sempre sem nome
Eu já não decoro - se ri mostrando o ouro no dente
Roça a faca, depena o papo
Pisa as asas e corta o pescoço
Não olha com dó, criatura
Assim cê não deixa ele morrer
Mais um franguinho degolado
Prato branco esmaltado, sangue rubro e feito gelatina
Penas molhadas, mais fumaça no caldeirão
Cheiro de pena queimada
Passa na chama do fogão
Três mulheres beliscam o franguinho
Cata, cata! Cata as penugens!
Franguinho depenado parece mais magro
Abre a barriga, tira, tira
Tira a moela, vira ela, lava ela
Corta os pés, corta a cabeça, vai tudo pra panela
Ela não desperdiça nada
Que beleza de frango, amarelinho
Criado na roça, só com milho
Vale o que se paga
Só o caldo já compensa
Corta o milho, tem angu
Mexe bem pra não grudar
Tem pão de queijo, claro
Pimenta, cadê a pimenta?
Bota a caçarola no fogo
Franguinho não pode demorar
A família reunida
O dia desabrocha em causos, risos de tantas gerações
De tarde ela descansa o corpo deitada no banco que veio da fazenda
De lá detrás da serra, onde tudo começou