quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Quando não havia o medo

No Trem da Morte, que ia de Santa Cruz de La Sierra a Porto Quijarro,
ninguém esperava que o último dia de um roteiro de 20 dias por Bolívia, Chile, Peru
seria esticado por novos lugares, pessoas e risadas; até um senhor entrar no
vagão e anunciar com um "portunhol": "A partir daqui, o trilho está
inundado pelas águas do pantanal boliviano". Faltavam menos de 30 km
para chegarmos ao nosso destino!
Sem opção, ficamos naquela estação, onde o único sinal de civilização
era uma tenda. Lá, espantamos o calor úmido com cervejas geladas (sim, GELADAS), enquanto
observávamos outros passageiros espremerem-se em transportes improvisados para
atravessar os três lagos formados pelas chuvas. Até a
lua despontar, pensávamos que eles eram loucos. Depois, quando a noite
chegou e os anunciados ônibus não, notamos o engano: loucos éramos nós!
O jeito foi nos juntar aos que tinham ficado e caminhar para uma estrada de terra, mortos de fome, delirando por um
transporte, qualquer que fosse. De repente, um alvoroço: um caminhão! Com um pouco de conversa e bolivianos (moeda local), abriram a carroceria
para a cambada abandonada subir. Foi um empurra-empurra de gente e malas
arremessadas até todos se acomodarem em pé. Para comemorar, o pisco -
recordação da viagem - virou brinde. E, sob uma lua cheia,
atravessamos os pontos alagados, com um sorriso grudado no rosto de terra.

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